HENRY CORBIN

(1903-1978)

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BIOGRAFIA

Henry Corbin foi um estudioso da filosofia e da mística islâmicas, principalmente do islamismo que se desenvolveu no Irã. Diretor de Estudos sobre Islã e Religiões da Arábia, da Escola Prática de Altos Estudos, instituto da Sorbonne, na França, e organizador do Departamento de Iranologia do Instituto Franco-Iraniano, no Irã, Corbin aproximou o Ocidente do Oriente.

Na Escola Prática de Altos Estudos, foi aluno de Étienne Gilson, cujas pesquisas renovaram o estudo da filosofia medieval. Com esse professor iniciou seu contato com a filosofia islâmica, por meio de textos traduzidos do árabe para o latim pela Escola de Toledo, no século XII, dentre eles, o livro Liber Sextus Naturalium, de Avicena.

            “Este foi meu primeiro contato com a filosofia islâmica. Ali eu descobria uma cumplicidade entre a cosmologia e a angelologia, em relação à qual eu me perguntava se não era o caso de me aprofundar sob outros aspectos. Creio que essa preocupação angelológica não me deixou mais ao longo de toda a minha vida”.[1]

Decidido a aprofundar seus estudos, ingressou na Escola Nacional de Línguas Orientais, onde estudou árabe e sânscrito. Além dessas línguas, Corbin, ao longo de sua vida, conheceu o persa, o turco, o aramaico e o siríaco.

Nessa mesma época, estudou com Émile Bréhier, que ministrava o curso sobre o neoplatônico Plotino e os Upanixades, obra da filosofia indiana vedantina. Referindo-se à sua relação com o platonismo, diz:

            “Eu sempre fui um platônico (no sentido amplo da palavra, evidentemente). Creio que se nasce platônico, como se pode nascer ateu, materialista, etc. — mistério insondável das escolhas preexistenciais.” [2]

Em 1928, conheceu Louis Massignon, Diretor de Estudos sobre Islã e Religiões da Arábia, da Escola Prática de Altos Estudos, que lhe presenteou com a obra Hikmat al-Ishraq (Sabedoria da Iluminação ou Teosofia Oriental), de Sohravardi, filósofo platônico persa do século XII, fundador da Escola Ishrâq, que teve importante influência em seu pensamento. Sobre isso, comentou:

            “Meu encontro com Sohravardi selou meu destino espiritual na travessia deste mundo. Esse platonismo se expressava nos termos da angelologia zoroastriana da antiga Pérsia, iluminando a via que eu buscava” [3].

Corbin propôs-se a reavivar a filosofia iraniana assim como Étienne Gilson o havia feito com a filosofia medieval.

Ingressou na Biblioteca Nacional, para onde foi chamado como orientalista. De 1935 a 1936, foi enviado para o Instituto Francês em Berlim, Alemanha. A filosofia e a espiritualidade mística alemãs também lhe interessavam, tendo sido influenciado por Jacob Boheme. Na Alemanha também buscou familiarizar-se com a obra do sueco Swedenborg.

Em 1939, foi enviado ao Instituto Francês de Arqueologia, em Istambul, na Turquia. Esse período, que deveria ser de três meses, prolongou-se por quase sete anos, até 1946, quando terminou a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, recolheu manuscritos de Sohravardi espalhados pelas bibliotecas de Istambul com o intuito de publicá-los em árabe e em persa. Em 1944, recebeu a incumbência de ir ao Irã, onde começou a publicação da Biblioteca Iraniana, coleção de textos inéditos em persa ou em árabe.

 A partir de 1949, participou das conferências do Círculo de Eranos, em Ascona, na Suíça, em que discutiu e desenvolveu esse tema. Nesses encontros, teve contato com Carl Gustav Jung, com quem manteve correspondência; Gershom Scholem; Giuseppe Tucci; Henry-Charles Puech; Heinrich Zimmer; Gilles Quispel, entre outros.

Em 1954, Henry Corbin retornou a Teerã como Diretor do Departamento de Iranologia do Instituto Franco-Iraniano, quando instituiu a Biblioteca Iraniana. Em Paris, foi nomeado sucessor de Louis Massignon na Escola Prática de Altos Estudos.

Com Robert de Chateaubriant, Gilbert Durand, Antoine Faivre e Richard Stauffer, fundou, em 1973, a Universidade de São João de Jerusalém, um centro internacional de pesquisa comparada de temas espirituais. O centro propunha-se estudar a gnosis que permeia as tradições judaica, cristã e islâmica. Em O Islamismo Iraniano, Henry Corbin fala da vivência interior, também presente em Sohravardi, de uma família, a sagrada linhagem da Gnosis:

          “…o sentimento de pertencer a uma família espiritual dispersa através dos espaços terrestres, mas cujo vínculo invisível e inseparável os mantém tão unidos como os ramos de uma grande árvore”.

Corbin aposentou-se em 1974, mas continuou a dar palestras na Escola Prática de Altos Estudos e, em todos os anos, retornou à Universidade de Teerã.

Foi casado com Stella Leenhardt.

Chamado por alguns de “erudito visionário”, morreu em Paris, em 7 de outubro de 1978.

[2] Post-scriptum biográfico a uma entrevista sobre filosofia”, in L’Imâm caché. Paris. Éditions de L’Herne. 2003. pp. 220.

[3] Idem, pp. 219-220.