HELENA PETROVNA BLAVATSKY
(1831-1891)
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BIOGRAFIA
Helena Blavatsky foi uma escritora russa que procurou trazer ao Ocidente ensinamentos aprendidos no Oriente e promover a aproximação de diferentes correntes filosóficas e contemplativas. Além disso, ela deu notícia de que há muito material ainda desconhecido (inédito até os dias de hoje), como ensinamentos atribuídos a Buddha ou a Lao-Tsé e seções dos Upanixades, preservado em bibliotecas, templos e escolas cujos mestres atuam de forma reservada.
Sua vida pode ser abordada por meio de quatro períodos principais: do seu nascimento ao retorno à Rússia, depois de um período intenso de viagens; sua permanência nos Estados Unidos; sua atuação na Índia; e seu trabalho na Europa, principalmente na Inglaterra.
1. DO NASCIMENTO AO RETORNO À RÚSSIA (1831 a 1872)
Helena Petrovna von Hahn nasceu em Ekaterinoslav, cidade da então Rússia, hoje Dniper, na Ucrânia, em 12 de agosto de 1831. Quando ainda criança, teve contato, por meio de sua família, com a tribo dos calmucos, que praticavam o budismo tibetano no sul da Rússia. “Estou plenamente familiarizada com o Lamaísmo dos budistas tibetanos. […] sabia tudo acerca de lamas e tibetanos antes de meus 15 anos”[1]. Aos 11 anos, após a morte de sua mãe, passa a morar com seus avós maternos, que haviam herdado a biblioteca de seu bisavô, o Príncipe Dolgorouki, membro da Estrita Observância Templária, organização maçônica rosacruz alemã[2]. Segundo ela, “…meu bisavô por parte de mãe, Príncipe Pavel Vasilyevitch Dolgorouki, tinha uma estranha biblioteca contendo centenas de livros (…). Eu os li com o mais ávido interesse antes dos 15 anos (…) e logo nem Paracelsus, Kunrath nem C. Agrippa teriam algo a me ensinar.” 5
Para que pudesse fazer seus estudos sem restrições e livre da supervisão familiar, casou-se, aos 17 anos, com Nikifor Blavatsky. Contudo, discussões culminaram com sua fuga três meses após o casamento, em 1849. HPB, então, parte para Constantinopla e, de lá, para o Egito, dando início a um longo período de viagens pelo mundo[3].
Helena Blavatsky buscou ensinamentos mais profundos relativos àqueles que ela já vinha estudando. Em carta diz: “Em Atenas, no Egito, no Eufrates, em todos os lugares aonde eu ia eu procurava minha pedra [filosofal]. […] Vivi com os dervixes rodopiantes, com os drusos do Monte Líbano, com os árabes beduínos e os marabutos de Damasco. Não a encontrei em lugar nenhum![4] Em 1851, aos 20 anos, em Londres, encontrou-se com um personagem indiano, chamado por ela de Morya, que a orientou ao longo de toda a sua vida. Ele solicitou sua cooperação em um trabalho que iria realizar — a formação da Sociedade Teosófica — e orientou-a a ir para a Índia e o Tibete para se preparar durante três anos[5].
Assim, ela se dirigiu para a Índia, antes passando pelo Canadá, Nova Orleans e México. Na Índia permaneceu por dois anos. Tentou entrar no Tibete, sem sucesso, pois o país era fechado para estrangeiros, e seguiu para a Inglaterra. Em 1867, na Itália, juntou-se como voluntária às tropas de Garibaldi na batalha de Mentana, onde quase foi morta em combate. A partir de 1868, permaneceu por quase três anos no Tibete. “Vivi em diferentes períodos tanto no Pequeno Tibet[6] quanto no Grande Tibet, e esses períodos combinados formam mais de sete anos”[7]. Foi nessa ocasião que ela encontrou o Mestre Kuthumi pela primeira vez e viveu na casa da irmã dele, em Xigatse[8].
Durante quatro meses em que se encontrou no Cairo, fundou um grupo chamado Sociedade Espírita, para a investigação de médiuns e de fenômenos segundo as teorias e a filosofia de Allan Kardec[9]. Seu objetivo era aproveitar o interesse das pessoas por esses temas e, aos poucos, apresentar os ensinamentos que trazia do Oriente. Porém, a dificuldade que encontrou, tanto no Egito quanto, mais tarde, nos Estados Unidos, foi a de encontrar pessoas aptas a trabalhar com ela. Normalmente, as pessoas buscavam obter renda com isso, e não fazer investigação filosófica. Mesmo as que tinham algum potencial rendiam-se às necessidades financeiras e fraudavam fenômenos quando não aconteciam naturalmente.
Enquanto permaneceu no Egito, mantinha contato com um copta, “um homem amplamente conhecido, de consideráveis posses e influência”[10], considerado seu primeiro instrutor. Do Cairo HPB rumou para a Síria, Palestina e Líbano. “Eu pertenço ao grupo secreto dos drusos do Monte Líbano”[11]. Os drusos são os preservadores da tradição do Ismailismo, que contém elementos do neoplatonismo e do neopitagorismo. Posteriormente, foi para Odessa para reencontrar a família.
2. ATUAÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS (1875-1878)
No início de 1873, HPB dirigiu-se para os Estados Unidos. Lá iniciou amizade com Henry Steel Olcott, renomado advogado que a acompanhou em seu trabalho durante nove anos. Em Ítaca, no Estado de Nova York, escreveu Ísis sem Véu, que abordava temas relativos à ciência e ao estudo das religiões e que teve repercussão imediata.
Estabeleceu-se na cidade de Nova York e, em outubro de 1875, com Olcott e mais 15 pessoas, fundou a Sociedade Teosófica, destinada ao estudo da Teosofia, a sabedoria sobre o divino. Dentre os 17 fundadores iniciais, estava William Q. Judge, advogado irlandês naturalizado americano que foi importante para a continuação desse trabalho nos Estados Unidos.
Nessa época, as pessoas estavam voltadas para a busca de comunicação com os mortos, e Blavatsky pretendia alertar as pessoas para o engano e para o risco dessas tentativas. Ao mesmo tempo, a ciência estava se estabelecendo cada vez mais materialista, e ela procurava chamar a atenção para o fato de que era possível obter conhecimento muito mais abrangente e efetivo do que aquele que a ciência havia alcançado.
HBP e seu grupo foram orientados a criar uma sociedade reservada, aos moldes de uma loja rosacruz[12]. Dentre os fundadores, podemos citar alguns maçons, como Charles Sotheran, que pertencia também à Societas Rosicruciana in Anglia. A ideia era a de formar uma loja maçônica com o intuito de trazer ensinamentos orientais (Cagliostro havia feito o mesmo no século XVIII)[13].
Nesse período foi criado um núcleo da Sociedade Teosófica em Londres, no qual atuou também Anna Kingsford, médica e escritora inglesa, autora de Vestida de Sol.
3. ATUAÇÃO NA ÍNDIA (1879 a 1885)
Em 1878, seguindo a orientação de seu mestre, HPB e Olcott deixaram os Estados Unidos e foram para a Índia, instalando outro núcleo da Sociedade Teosófica em Bombaim e, posteriormente, em Adyar, onde foi estabelecida a sede. Suas viagens pela Índia, com visitas a vários templos e bibliotecas, são relatadas de forma ficcional em uma série de artigos que escrevia para um jornal russo e que depois foram reunidos sob o nome de From the Caves and Jungles of Hindostan (Nas Cavernas e Florestas do Indostão). Nesses relatos, seu mestre é chamado de Gulab Lal Sing[14], mas Olcott relatou contato com o filho deste, Ram (ou Ranbir) Singh. Marajá de Caxemira, ele foi um grande patrocinador do ensino em seu reino e financiou a compra do terreno em Adyar, onde foi estabelecida a sede da Sociedade Teosófica[15].
Blavatsky e Olcott fizeram contato com o editor do jornal britânico na Índia, Alfred Sinett, que passou a ser um colaborador. Juntaram-se a eles dois destacados membros indianos: Damodar Mavalankar, um brâmane que assumiu o cargo de secretário-adjunto, e Subba Row. Iniciou-se um período de correspondências entre os Mestres e os discípulos, inclusive Alfred Sinett, que estão reunidas em Cartas dos Mestres de Sabedoria e Cartas dos Mestres a Sinett.
Em 1884, foi caluniada por dois ex-funcionários, que a acusaram de ser impostora. Dando suporte a essas acusações, foi feito um relatório desfavorável a ela pela Sociedade de Pesquisas Psíquicas, cujo resultado só foi revisto, inocentando-a, cem anos depois. Impedida de se defender judicialmente das calúnias pelo Conselho da Sociedade Teosófica, HPB retirou-se para a Europa, em 1885.
4. ATUAÇÃO NA EUROPA (1885-1891)
Durante os próximos dois anos, permaneceu na Itália, Suíça, Alemanha e Bélgica e, em 1887, a chamado de Bertram e Archibald Keightley, tio e sobrinho, foi para Londres, onde passou os quatro últimos anos de vida.
Em 1887, fundou a Loja Blavatsky, um novo ramo da Sociedade Teosófica. No ano seguinte, fundou a Seção Esotérica, para os discípulos mais avançados. Em 1890, passou a coordenar as reuniões de um grupo de 12 discípulos, chamado Grupo Interno, selecionados a partir da Seção Esotérica. Uma série de perguntas e respostas dadas a esses discípulos mais próximos estão reunidas em The Inner Group Teachings of H.P. Blavatsky[16].
Em 1888 e 1889, publicou os dois volumes de A Doutrina Secreta, tradução, com comentários, das Estâncias de Dzyan, texto até então desconhecido, presente no que ela chamava Livros de Kiu Te, que o estudioso americano David Reigle identificou como ensinamentos reservados de Buddha da categoria sGyud dDe, ou seja, o tantra budista. Segundo Reigle, muito provavelmente, as Estâncias de Dzyan fazem parte do texto-raiz de um ramo da tradição budista chamado Kalachakra[17], popularizado no séc. XX por Tenzin Gyatso, atual Dalai Lama.
Em agosto de 1889, George Mead começou a trabalhar com ela como secretário particular. Foi também secretário-adjunto da Seção Esotérica e Secretário-Geral da Seção Europeia.
Em 1889, HPB publicou A Chave para a Teosofia e muitos artigos de periódicos em inglês e em francês. Em 1890, publicou Gemas do Oriente, pequeno livro com pensamentos diários.
Helena Blavastky morre em 8 de maio de 1891.
Sua obra influenciou expoentes de várias áreas, como Albert Einstein. Duas testemunhas — sua sobrinha e Jack Brown, em seu artigo intitulado Eu visitei o Professor Einstein — afirmaram que ele mantinha um exemplar de A Doutrina Secreta sobre sua escrivaninha[18]; o poeta William Butler Yates, membro muito ativo da Sociedade Teosófica em Dublin e um dos primeiros membros da Seção Esotérica[19], e os escritores Jack London[20] e Kurt Vonnegut Jr.[21]; os pintores Wassily Kandinsky[22] e Piet Mondrian[23]; Christmas Humphreys e D.T. Suzuki[24], que propagaram o budismo e o zen-budismo no séc. XX, e vários outros.
[1] Blavatsky, Scrapbook, vol. XXX, p. 106, em Introdução de A Voz do Silêncio. São Paulo, Ed. Pensamento, 1997, p. 15.
[2] Arthur Waite, A New Encyclopedia of Freemasonry, Nova York, EUA, Wings Books, 1996. edição combinada, vol II, p.19.
[3] Marina Villares Lenz Cesar Sisson, “Da Infância ao Casamento com Nikifor Blavatsky”, A Esfinge Helena Blavatsky, edição da autora, Brasília, 2003, p.113. Disponível em < http://www.anna-kingsford.com/portugues/outras_obras_relacionadas/obras_relacionadas/OOR-P-Esfinge/index.htm>. Acesso em mar 2014.
[4] Blavatsky, H.P.B. Speaks, vol. 2. p. 66.
[5] Wachtmeister, Reminiscences of H. P. Blavatsky and the “Secret Doctrine”, Theosophical Publishing Society, Londres, 1893. Disponível em <http://blavatskyarchives.com/wachtmeister/wachtmeisterrem2.htm> . Acesso em fev 2014.
[6] Ladakh, na região de Caxemira.
[7] Collected Writings, vol. VII, p. 272, in A Esfinge Helena Blavatsky, Marina Villares Lenz Cesar Sisson, p. 45 (ver n. 6).
[8] Collected Writings, vol. I, xlviii, in A Esfinge Helena Blavatsky, Marina Villares Lenz Cesar Sisson, p. 45.
[9] Alfred Sinnet, Incidents in the Life of Madame Blavastky, Cap. 7. Disponível em http://hpb.narod.ru/IncidentsLifeBlavatsky1.htm. Acesso em abr. 2014.
[10] Idem, p. 44.
[11] John Algeo, The Letters of Madame Blavatsky,Wheaton, Illionois. The Theosophical Publishing House, 2003, vol. I, p. 411.
[12] Idem, p. 13.
[13] Idem, p. 468.
[14] . Radda-Bai (H. P. Blavatsky), From the Caves and Jungles of Hindostan, 3ª ed. Wheaton, EUA. The Theosophical Publishing House, 1993. pp. 272-273.
[15]. Henry S. Olcott, Old Diary Leaves, vol. III, p. 57-58. Disponível em < http://blavatskyarchives.com/theosophypdfs/olcott_old_diary_leaves_volume_3_1904.pdf>. Acesso em mar 2014.
[16] Henk J. Spierenburg, The Inner Group Teachings of H.P. Blavatsky to her personal pupils (1890-1891). San Diego, Califórnia: Point Loma Publications, Inc. 1995.
[17] David e Nancy Reigle, “What are the Books of Kiu-te?”, in Blavatsky’s Secret Books. San Diego. Wizards Bookshelf. 1999. pp. 43-49.
[18] Ver Sylvia Cranston, Helena Blavatsky — A Vida e a Influência Extraordinária da Fundadora do Movimento Teosófico Moderno, Brasília. Ed. Teosófica, 1997. p. 20.
[19] Idem, p. 505.
[20] Idem, p. 515-516.
[21] Idem, p. 558.
[22] Idem, p. 523-524.
[23] Idem, p. 528
[24] Idem, pp. 108; 537-540.