Acervo Geral (em ordem alfabética)
Blavatsky e o Buddhadharma | Mead e o Gnosticismo | Jung e a Alquimia | Corbin e o Ismailismo
Yahya Sohravardi – Bilbioteca Garbha
Shihab al-DinYahyâ as-Sohravardi, tradicionalmente chamado de shaykhou doutor de Ishraq, foi um filósofo místico, iniciador da Filosofia da Luz. Nasceu em 1155 em Sohraward, no noroeste do Irã, e considera-se que tenha morrido em 29 de julho de 1191, em Alepo, na Síria.
Sua Vida
Ainda muito jovem foi para Marâgheh, no Azerbaijão, onde estudou com o sheikh Madj al-DînJilî. Nesse país havia comunidades cristãs nestorianas. Em seguida, foi para Ispahan, zona central do Irã, onde encontrou viva a tradição de Ibn Sina (Avicena). Em Ispahan escreveu um de seus primeiros tratados, O Jardim do Homem Interior, dirigido a um grupo de amigos. A partir dali iniciou uma vida itinerante, frequentando comunidades sufis. Passou alguns anos no sudoeste da Anatólia, Turquia, e finalmente dirigiu-se à Síria. Em Alepo, Sohravardi e o governante da cidade, al-Malik al-ZahirGhazi, filho de Salah al-Din (o Saladino das cruzadas) desenvolveram uma amizade profunda. Nessa cidade formulou o seu sistema e o Hikmat al-Ishraq,O Livro da Sabedoria Oriental,que foi completado em 1186.Morreu supostamente em Alepo, após ser preso e condenado por Salah al-Dinpor pensar diferentemente da ortodoxia islâmica da época. Seu discípulo Shams al DinShahrazori escreveu sua biografia, reuniu e comentou suas obras.
Sua Obra
Hikmat al-Ishraq(O Livro da Sabedoria Oriental) representa a sistematização do ensinamento em seu conjunto. Segundo Henry Corbin, “ishraq”significa “o nascer do sol”, “o esplendor da aurora”, a sabedoria cuja origem é a revelação e a iluminação. Para Sohravardi a sabedoria tem o sentido de “irfan”, um conhecimento que é “gnosis”.
Seu objetivo era ressuscitar a sabedoria da antiga Pérsia, especialmente de Zoroastro, e uni-la com os ensinamentos de Hermes e Platão dentro do contexto islâmico em que estava inserido. Diz Sohravardi: “Há entre os antigos persas uma comunidade que estava dirigida por Deus. Por Ele foram conduzidos sábios eminentes (…). É sua elevada teosofia da Luz, da qual é testemunha a experiência mística de Platão e seus predecessores, que ressuscitamos em nosso livro que tem como título ‘A Teosofia Oriental’”[1].Assim ele realizava o projeto de uma Sabedoria Oriental, uma filosofia com ênfase na iniciação espiritual. Quando fala de Oriente como um mundo suprassensível onde ocorrem os acontecimentos da alma, Sohravardi retoma o sentido que já estava presente na obra de Ibn Sina. A escola de Sohravardi também foi conhecida como a dos “platônicos da Pérsia”, e eles relacionavam as Ideias de Platão com a angeologia zoroastriana. Além disso, houve influência dos neoplatônicos, especialmente de Proclo. Os hinos de Sohravardi são semelhantes aos desse filósofo neoplatônico do século V. Disse Sohravardi: Nós depositamos a ciência da Verdadeira Realidade em nosso livro que tem como título A Teosofia Oriental, livro no qual ressuscitamos a antiga sabedoria que os Imames da Índia, da Pérsia, da Caldeia, do Egito bem como dos antigos gregos até Platão nunca deixaram de ter como pivô e da qual eles tiraram sua própria teosofia”[2].
Em Junções e Reuniões (Carrefours et Entretiens), Sohravardi esboça uma árvore genealógica dessa Sabedoria, em cujo tronco está Hermes. No ramo oriental encontramos os antigos sábios persas Gayomart, o rei primordial, e os dois reis santos Fereydun e KayKhosraw, anteriores a Zoroastro. Esse ramo da sabedoria chega até ele por meio de três mestres do sufismo: Abu Bastami; Mansur Hallaj, a quem Sohravardi chamava de “meu irmão”; e Abu Kharraqani. No ramo ocidental encontramos Empédocles, Pitágoras, Platão, chegando ao filósofo de Ishraqipor meio de AkhiAkhmim (Dhul’l-NunMisrî) e Abu Tostari.
O projeto de Sohravardi foi retomado três séculos mais tarde por Gemisto Plethon, bizantino que impulsionou o Renascimento na Itália. Corbin pergunta se o mestre de Plethon, Eliseu, não teria sido um ishraqi cuja origem era a Anatólia.
Sohravardi tratava do retorno do exilado a si mesmo, numa busca filosófica que implica uma realização espiritual alcançada por meio da purificação interior, apresentada pelos sufis, e do atingimento da gnosis, apresentada pelos filósofos. Para ele, uma filosofia à qual falta a experiência espiritual é uma grande perda de tempo e corre o risco de desviar-se em vaidade intelectual, enquanto a experiência mística sem uma formação filosófica corre o risco de desviar-se em erros, confusões e ilusões.
Corbin divide os cerca de 50 títulos de obras e opúsculos, tanto em árabe quanto em persa, em quatro grupos:
- Uma trilogia formada de três grandes tratados que buscam preparar o leitor para o estudo e a prática da obra que sistematiza o pensamento de Sohravardi: Hikmat al-Ishraq, ou O Livro da Teosofia Oriental.
- Um grupo de obras menores. Oito tratados que expões questões teóricas.
- Uma dezena de tratados na forma de discursos em parábolas ou relatos de iniciação. São tratados propriamente irfani (gnósticos).
- Um conjunto de textos que formam um tipo de “Livro das Horas”, hinos que são a expressão da liturgia do Ishraq.
Fontes:
Henry Corbin – En Islam Iranien vol. II
– Suhrawardî d’Alep
– L’Archange Empourpré